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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O PARADIGMA DA LUSA INDEFINIÇÃO

A nível global a sociedade humana vive um período decisivo, marcado pela imperativa necessidade de acção concertada para lidar com os desafios ambientais decorrentes da constante necessidade de exploração de recursos naturais e agrícolas que providenciem de forma sustentada condições de vida dignas a um número crescente de humanos. Mas, na realidade a sociedade está repleta de assimetrias económicas, de direitos e liberdades. As projecções de crescimento demográfico mundial divulgadas pelas Nações Unidas (World Population Prospects: The 2017 Revision), apontam para 8,5 mil milhões de seres humanos em 2030, estimando-se ainda que atinjam 9,8 mil milhões em 2050, o que corresponde a um aumento populacional de aproximadamente 83 milhões em cada ano. De forma justa, cada um destes seres humanos aspira a um nível de vida digno, em grande medida suportado pela utilização destes mesmo recursos naturais. Mais seres humanos implica inexoravelmente maior consumo de energia, seja qual a forma que esta é produzida.

Neste enquadramento, Portugal enquanto país signatário do Acordo de Paris em Dezembro de 2015, suportado pelas conclusões do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), tem procurado aplicar múltiplas políticas para enfrentar estes desafios tentando caminhar para a implantação de uma sociedade mais sustentável. Entre vários objectivos, este acordo procura limitar o fenómeno de aquecimento global para níveis semelhantes aos existentes no século XIX, antes revolução industrial, com os diversos governos politicamente comprometidos em estabelecer contributos para metas quantificáveis por forma a reduzir as suas emissões.

Embora grande parte das vezes o discurso dos políticos portugueses (da esquerda à direita) esteja suportado pela lógica corrente e pleno de boas intenções, apresenta-se totalmente dissociado da realidade nacional e as medidas estratégicas propostas padecem acima de tudo de estudo credível sobre a sua verdadeira capacidade de implementação e estudo claro sobre as formas inequívocas que se reflitam na sociedade.

Tomem-se alguns exemplos das políticas de descarbonização da economia na vida do cidadão normal, das quais falo com experiência: 1) Procura-se o incentivo da utilização da energia solar fotovoltaica doméstica, porém, para uma família que queira instalar painéis para produção de energia eléctrica para auto-consumo não existem incentivos fiscais eficazes que promovam ponderar seriamente esta opção, pois os seus custos, embora consideravelmente mais aceitáveis, são ainda significativos e que para uma família de classe média são incomportáveis. Paralelamente, não existe ainda legislação que promova ou obrigue à de instalação de painéis fotovoltaicos para novas construções. 2) Assiste-se nestes dias à grande e acesa discussão sobre a morte anunciada dos motores de combustão a diesel e da necessidade de passar à mobilidade eléctrica, mas sem uma verdadeira rede nacional funcional de postos de carregamento. Quem como eu já optou por um veículo plugin híbrido, a batalha prende-se com o desafio diário de depois de carregar o telemóvel-com-rodas durante a noite, fazer-se ao trânsito citadino, olhar para o conta-quilómetros e ver a bateria rapidamente esvair-se, para quando se chega ao destino de trabalho não existirem postos de carregamento em número suficiente pela cidade. E destes raros pontos, por norma não estão funcionais. Ainda, a esmagadora maioria dos parques públicos de estacionamento não possuem estes postos nem autorizam a carga quando até há tomadas instaladas. Por exemplo, nos concelhos do Seixal e Barreiro com mais de 200 mil habitantes, não existem um único ponto de carregamento na rede MOBI.E.

Tomemos o exemplo de um prédio suburbano construído nos anos 80-90, com 6 andares e 3 fogos por piso, o que totaliza 18 habitações, instalação eléctrica antiga, sem garagens e potencia instalada limitada. Onde podem os condutores carregar os seus veículos? Apenas na via publica ou em parques especificamente criados para o efeito. Se o prédio tiver estacionamento coberto ou garagens, como assegurar a conversão para nova potência seja feita em segurança e a custos aceitáveis para os condóminos? Multiplique-se este cenário para a realidade nacional, para rapidamente se chegar à conclusão que não existe uma solução pensada para o problema. Não basta promover a compra de veículos eléctricos se não houver capacidade instalada imediata para os carregar. O condutor consciente, não irá certamente optar pela solução do carro eléctrico.

Com a crescente procura deste tipo de veículos, aumenta imediatamente a necessidade de energia eléctrica no período nocturno, que é quando os condutores podem na sua maioria assegurar a deslocação no dia seguinte. Está a rede eléctrica nacional capacitada para este aumento de consumo nos próximos anos? Produz o país suficiente energia “limpa” ou terá que continuar a aumentar a importação de carvão e gás natural? Segundo Os últimos dados de Balanço Energético 2016 da Direcção Geral de Geologia e Energia, apenas 10% da energia primária (toda a forma de energia disponível na natureza antes de ser convertida ou transformada) é eléctrica. O grosso da energia primária é e continuará a ser nas próximas décadas assegurada por combustíveis fósseis, e estes são totalmente importados, traduzindo a total dependência estratégica e orçamental das flutuações de fornecimento e de preço de mercado. Sobre isto adicione-se a crescente rejeição de quaisquer actividades de pesquisa de hidrocarbonetos em território nacional que pudessem eventualmente resultar numa descoberta económica que diminuísse esta dependência e pudesse contribuir para a balança económica. Assim, mais uma vez, a indefinição lusa do paradigma energético se vai perpetuando e sem qualquer visão ou estratégia clara.

A transição energética ao nível dos hábitos e recursos das famílias, para ser eficaz, tem, portanto, de assentar num forte compromisso nacional de redução do consumo de hidrocarbonetos em benefício de outras formas energéticas menos impactantes no ambiente, mas principalmente na possibilidade de com normas, leis e incentivos estatais rapidamente dotar a sociedade de todos os instrumentos que permitam esta transição. Caso contrário o caminho será tortuoso, penoso e ineficaz, e como tal condenado ao fracasso, e acompanhado de elevado custo económico, social e ambiental.


Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Geociências: o quê e para quê?

Numa sociedade cada vez mais global, a premissa do melhoramento das condições de vida para todos assenta sobre a necessidade de um conjunto de recursos geológicos, sejam eles os recursos metálicos, não metálicos, energéticos ou hídricos. No decurso dos últimos anos, temos vindo a assistir a um desenrolar de discursos e exaltação de “verdades” absolutas no âmbito da gestão dos recursos naturais e, assim sendo, do papel das geociências em Portugal, como sejam os polémicos debates acerca da exploração de recursos naturais nacionais (como o petróleo e gás, ou o lítio) ou os diversos problemas de índole geotécnica e ordenamento do território (como o caso do deslizamento de terras de Borba).

Salvo honrosas exceções, a participação de geocientistas nestes debates não tem sido equacionada. No seu lugar, outro tipo de “especialistas”, como advogados ou ativistas ambientais, são convidados para discutir questões relacionadas com exploração de recursos naturais, e engenheiros civis para comentar acontecimentos de índole geotécnica. Associado a esta primeira desacreditação, soma-se ainda a manipulação de factos e de discurso, que inevitavelmente culmina com acusações desprovidas de factualidade sobre a idoneidade dos profissionais em geociências. A grande maioria dos geocientistas é, primeiramente, um admirador profundo do planeta Terra. O seu entendimento relativo à gestão dos seus recursos vai mais além “do coadunar-se com empresas” e do “subjugar-se aos grandes interesses económicos”. A visão dos geocientistas sobre o sistema terra é integrada e a variadas escalas temporais. Incutir à sociedade portuguesa outra verdade que não esta ridiculariza não só o papel fundamental dos geocientistas nesta sociedade, mas principalmente descredibiliza o papel dos profissionais, académicos e investigadores das nossas Universidades e restantes instituições académicas.

Estes discursos tornam-se mais preocupantes num Portugal sem qualquer estratégia definida no que diz respeito aos recursos naturais, e em que se dá protagonismo a opiniões tendenciosas, aos discursos inflamados e às tomadas de posição por movimentos sociais extremistas, sensacionalistas e fundamentalistas. E aqui, nós como classe profissional devemos assumir mea culpa. Algo apáticos, não soubemos utilizar uma linguagem acessível e divulgar o papel destas ciências na sociedade civil (excetuando-se casos concretos como as atividades dos Centros Ciência Viva, Geoparques e as ações do programa Ciência Viva no Verão). Passa por nós inverter este paradigma! As geociências devem ocupar um lugar central na sociedade - como assim tem sido desde o início da civilização!

A famigerada e malparada estratégia nacional de valorização dos recursos geológicos deverá ser de uma vez por todas retomada pelo Estado Central, tentando responder à pergunta: “o que é que queremos fazer como Nação soberana?”. Rejeitamos a visão binária e fundamentalista de que teremos de escolher, como país, entre a economia baseada apenas em turismo e serviços ou apenas pela indústria. Há vários exemplos de sucesso no mundo em que estes convivem e se respeitam mutuamente. Será que continuamos a querer um país polarizado entre litoral-interior ou queremos um investimento no país como um todo? Deveria ser imperativo uma visão concertada, estratégica, transparente e desburocratizada da exploração dos recursos naturais que envolva os Ministérios da Economia, do Ambiente e Transição Energética, do Planeamento e Infraestruturas, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e do Mar. Obviamente que assim, o mediatismo e o discurso político provocante perdem eficácia, beneficiando, por outro lado, o interesse nacional. O país necessita urgentemente de um plano estratégico para os organismos estatais com a função de promover a investigação, a gestão e a importante fiscalização da pesquisa, exploração e posterior recuperação ambiental, em especial a Direção Geral de Energia e Geologia, Laboratório Nacional de Energia e Geologia, Entidade Nacional para o Setor Energético e a Agência Portuguesa do Ambiente.

Inevitavelmente, a seguinte pergunta pode ser colocada: o que poderia facilitar o diálogo entre os órgãos de comunicação social, empresarial e política com esta classe profissional? A resposta poderá passar pela discussão aberta sobre a tão afamada Ordem de Geólogos (que continua parada entre dossiers), que, congregando várias sub-disciplinas, poderá constituir os alicerces desta ponte de comunicação que ambicionamos. 

Porque achamos que esta é finalmente a hora, este movimento informal, apartidário, independente e moderado de profissionais na área das geociências, inteiramente imbuídos dos nossos direitos de cidadania e conscientes do nosso valor e conhecimento, vem por este meio dizer basta! Queremos dar voz ao contraditório. O objetivo é claro: fornecer às pessoas informação que lhes permita ter capacidade de escolha e decisão baseado em factos! Não nos colocamos contra a ação das organizações ambientalistas, mas rejeitamos os discursos demagógicos e de retórica catastrofista.

Este é o nosso primeiro passo: clarificar quem somos, as nossas intenções e desconstruir qualquer ideia pré-concebida sobre os geocientistas. Relembramos que, no decurso da nossa atividade, acrescentamos valor e criamos empregos diretos e indiretos, sempre conscientes dos impactos e das necessidades da sociedade. Não nos esqueçamos que a nossa passagem pelo planeta irá deixar sempre impacto, e que para mantermos o modo de vida da população atual, não existe forma de negligenciar qualquer recurso geológico. A realidade crua é que a transição energética que todos nós – incluindo nós geocientistas – tanto ambicionamos, não terá como base apenas as energias ditas renováveis. É necessário um repensar estratégico ao nível nacional, europeu e global, focando o debate na chamada economia circular, baseada na redução, reutilização, recuperação e reciclagem dos materiais e energia, sem negligenciar a entrada de raw materials na equação. Daí a importância de (bem) conhecer os recursos naturais existentes em todo o território nacional, numa visão ampla e integrada de desenvolvimento sustentável.

Pelos geólogos,

Filipa Luz, Noel Moreira, Inês Pereira e João Casacão

Mesa Redonda: a importância da União

O "A União faz a Força" é já um ditado popular, incorporado no nosso sangue desde há inúmeras gerações. E a sabedoria popular contempla um conjunto de dizeres e frases que foram ditas por sábios como resultado das suas aprendizagens através da experimentação e observação.
Vejamos as inúmeras greves que têm tido lugar neste início de 2019 para compreender que cada enfermeiro ou cada técnico de diagnóstico, sozinho, não conseguiria incomodar ninguém e muito menos as forças políticas.

Na VIII edição do Congresso Jovens Investigadores em Geociências, LEG2018, organizado pelo Centro Ciência Viva de Estremoz nos dias 24 e 25 de Novembro, teve lugar uma Mesa Redonda lançada por um grupo de colegas que apenas representam a vontade de um crescente número de geólogos em discutir variados assuntos que têm afectado a profissão e, por consequência, os profissionais.

Desta iniciativa, em que participaram jovens geocientistas em diversos estádios do seu desenvolvimento profissional, bem como alguns geocientistas séniores, ligados a empresas, universidades e a associações nacionais, nasceu a vontade de expressar o nosso ponto de vista colectivo. Enquanto tentamos chegar aos orgãos de comunicação social, ao governo e às sociedades/associações, partilhamos algumas das ideias e acções propostas na reunião:

Aos mais jovens pede-se uma atitude mais proactiva em busca das associações, que nutram um espírito mais associativista e participativo. Este só poderá trazer benefícios. Ao cuidarmos da profissão estaremos, também, a cuidar do nosso futuro profissional. Lembremos novamente que a união faz a força

Aos mais séniores pede-se que tenham um papel mais notório em todos os eventos que afectam a esfera e a opinião pública e que incentivem os mais jovens, incluido-os nas diversas frentes de acção. A sabedoria também nasce da experimentação e observação.

Às associações e sociedades geológicas pede-se um maior envolvimento com a malha universitária, para que se possa criar a tal cultura de união e associativismo de que tanto necessitamos, e por forma a que estes compreendam as suas missões. 

Ao governo pede-se uma atitude muitíssimo mais clara, séria e estratégica no que diz respeito à pesquisa, exploração e gestão dos recursos naturais nacionais. E que, de forma muito séria, o Ministério da Educação faça uma revisão aos conteúdos e às técnicas de aprendizagem das geociências direcionadas para o ensino obrigatório. A inadequação destas revela-se mais tarde, quando em adultos se percepciona uma dificuldade grande em compreender conceitos e a extensão da acção das Ciências da Terra.

Esta plataforma irá assim facilitar a divulgação de conteúdos e de comunicados emitidos por diferentes profissionais das geociências com o intuito de informar e de unir.

Caso estejam interessados em colaborar connosco, enviem-nos um email para a YESPortugal

Um bem haja a todos,

Pelos dinamizadores da Mesa Redonda no VIII CJIG, LEG2018
Inês Pereira

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

5th YES Congress 2019 “Rocking Earth’s Future”

Caros jovens geocientistas,
Após as edições do Congresso da YES network na China (2009), na Austrália (2012), na Tanzania (2014) e no Irão (2017), esta chegou finalmente à Europa! Este ano, 2019, o congresso será realizado na Alemanha.
Os temas principais do congresso têm sido o clima, o ambiente e os desafios das geociências nos tempos modernos. Nesta edição, o capítulo alemão irá organizar o Rocking Earth’s Future.




Localização: Freie Universität Berlin, Berlin, Germany
Data: 9 - 13 September 2019.
Website: https://yesdeutschland.weebly.com/yes-congress-2019.html
Os temas gerais são:

ASHES TO ASHES - UNDERSTANDING EARTH PROCESSES

UNBOXING EARTH - INTERDISCIPLINARY PROBLEM SOLVING

HERITAGE EARTH - SUSTAINABLE RESOURCE MANAGEMENT

SOCIETY AT RISK - IMPACTING EARTH PHENOMENA

BRAVE NEW WORLD - ADVANCED TECHNOLOGIES IN EARTH SCIENCES

BEYOND PRINTING - COMMUNICATING SCIENCE

AVISO: O prazo para submissão de resumos foi adiado para dia 4 de Março. 
Vejam como aqui.

SIte oficial em baixo

Olá a todos,

Um breve comunicado para vos informar de que o site oficial da YES está em renovação e encontra-se offline.
Informarei a seu tempo quando voltar a estar online.

Cumprimentos,