Muito se tem discutido nos passados meses sobre a consciência ambiental. Desde o fenómeno Greta até ao PAN, as palavras ferozes, contestatárias e de ordem chegam-nos de todo o lado. Não é assim à toa que então surja em todos os programas eleitorais, sejam eles à esquerda ou à direita, uma prioridade denominada "a crise ou emergência climática".
Segue um convite a digerir alguns exemplos. Aviso: Não faz engordar. O Bloco de Esquerda apresenta um programa em que o seu passo #1 é uma acção pelo clima.
Lendo as variadas propostas que o Bloco apresenta para ir de encontro a esta emergência é óbvio que não encontramos nenhuma resposta satisfatória para a pergunta base: como é que se continua a crescer economica e demograficamente sem ter um plano de obtenção e aproveitamento de matéria-prima?
Para perceber o que é que implica para o Bloco a reconversão industrial, abrimos o link que nos leva para os seguintes pontos:
Será que o Bloco, que geralmente é tão afoito dos estudos e que pede os seus próprios pareceres, analisou seriamente a questão para perceber se Portugal domina as infraestruturas e está preparado para essa mudança já a partir de 2025? Ou estamos simplesmente a ir na onda, logo o Bloco que "raramente" concorda com directivas europeias.
Já o PCP, não abandonando a sua retórica típica, também inclui no seu programa acções em prole do ambiente. Para quem achava que nunca conseguiria ouvir mudanças no discurso do Jerónimo aqui vai.
É interessante aplicar o termo "viragem" na política ambiental, quando Portugal tem sido pioneiro já desde os tempos de Sócrates (para o bem e para o mal) na implementação das energias renováveis. E daí que isto se pareça simplesmente com aproveitamento político de uma temática que está nas páginas dos jornais.
Eu não sei se a APA precisa de um reforço ou se precisa simplesmente de gente séria. Mas é extremamente interessante que no topo das prioridades neste tema surja reavivar duas instituições com responsabilidades sobre a natureza e gestão de pareceres de impacto ambiental - nós sabemos como isto funciona ou não?
Ainda que não faça parte do texto principal, o PCP convida a uma reflexão que intitularam de "O ambiente e o capitalismo verde", porque já fazia falta introduzir o termo capital nas suas medidas.
Afinal alguém tem coragem de escrever sobre a exploração dos recursos naturais, dizendo que é compatível com a defesa do ambiente. Mas novamente é uma afirmação vaga, sem quaisquer efeitos práticos. O PCP vai ou não permitir avaliações rigorosas das matérias-primas em Portugal, apostar na linha de produção para que hajam mais-valias económicas para o País e esquematizar um programa sério de descarbonização faseada?
Continuando a ler as várias medidas propostas, parece mais uma carta pedida ao Pai Natal, com várias coisas que gostaríamos de ter mas que não sabemos ou não explicamos como.
Como ler o programa eleitoral do CDS-PP é basicamente o mesmo que ler o do PSD, não nos demoremos em ambos. O PSD com o seu site muito user-friendly convida a quem quiser a ir de clique em clique pelo seu programa. Até parece o programa eleitoral do Bloco. O #1 das preocupações para um próximo governo são as ditas alterações climáticas. Só depois vêm as finanças públicas, pois um programa que vise tirar todos os carros movidos a combustíveis fósseis vai ser feito sem custos para os utilizadores e para o estado. Ahhhhh talvez não.
A Saúde vem em 3º lugar, mas até espanta. Não me lembro de ver grandes avanços neste sector, tirando o aumento das horas extra pagas aos profissionais da saúde para se quadriplicarem em todos os profissionais que fazem falta, mas que não podem ser contratados. Melhorar a eficiência o quê? Não... eficiência só para subir salários aos magistrados.
Ficamos com a ideia de que alguém no PSD deve andar no lobby dos biocombustíveis ou Biomassa, pois em uma dúzia de propostas estas surgem na dianteira:
Curiosamente, e no fundo, o PSD quer reduzir o CO2 para irem de encontro às directivas europeias e mundiais, mas querem queimar biomassa... Então o plano vai ser arborizar para depois queimar. Engenhoso. Mas evitamos falar em combustíveis fósseis e exploração de recursos minerais e chutamos para canto como é que pretendem transitar e mudar por inteiro a frota do estado para veículos "híbridos" ou totalmente "eléctricos". Estará aqui o nascimento de um novo subsídio para deputados? Apoio para a mobilidade 2.0.
Após ler este programa, fica-se com uma sensação de "soube a pouco", pois fala-se em reciclagem mas não se fala da implementação de infraestruturas capazes de reciclar as baterias que irão provir desta mudança de frota tão repentina. Nem dessa e nem dos milhares de veículos "que já não servem" que irão parar às sucateiras para nos embelezarem a nossa rica paisagem lusitana.
As medidas do PS nem adiantam aqui colocar, pois o PS já está no governo há tempo suficiente para tomar posições. Sendo que, e pelo menos no papel, parecem determinados em desenvolver a indústria mineira associada ao lítio, a par da transformadora. Mas será o lítio a única alternativa? È esse o único ponto de acção de um governo que quer liderar a transição energética na Europa?
Por outro lado, e porque de repente nasceu o consenso entre a direita e a esquerda, todos os partidos estão preocupados com o mesmo, todos querem o mesmo e dizem o mesmo sobre essas coisas que querem. Na realidade parece ser finalmente uma verdadeira maioria parlamentar, um motivo de união partidária em prole do ambiente. É pena é que ninguém queira dizer aos portugueses como é que isto se consegue a par de manter todas as condições e desenvolvimento tecnológico que é desejado e imposto pela economia global. E quais os verdadeiros números por detrás da transição energética. E se existe alguém ou não a lucrar com esta transição repentina. E se não existem formas mais sérias para se obterem os mesmos resultados. Isso também não convém discutir.
Por outro lado, e porque de repente nasceu o consenso entre a direita e a esquerda, todos os partidos estão preocupados com o mesmo, todos querem o mesmo e dizem o mesmo sobre essas coisas que querem. Na realidade parece ser finalmente uma verdadeira maioria parlamentar, um motivo de união partidária em prole do ambiente. É pena é que ninguém queira dizer aos portugueses como é que isto se consegue a par de manter todas as condições e desenvolvimento tecnológico que é desejado e imposto pela economia global. E quais os verdadeiros números por detrás da transição energética. E se existe alguém ou não a lucrar com esta transição repentina. E se não existem formas mais sérias para se obterem os mesmos resultados. Isso também não convém discutir.
Em jeito de terminar, fica aqui um link para os leitores mais ávidos. Enquanto a Europa se preocupa com as suas demagogias, outros países sofrem os efeitos práticos da mentalidade NIMBY. Texto em Inglês porque em Portugal não dá muito jeito falar nestas coisas.
E não. A mensagem aqui não é que as minas de extração de cobalto sejam más, ainda que nunca possam ser totalmente inócuas. No entanto, as políticas de extração no Congo é que são más. Mas desde que os smartphones continuem a chegar às lojas europeias, está tudo bem! É esta a verdadeira tomada de consciência. Nada é eterno. Nem o Homem.
Escrito por
Inês Pereira
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