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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Tomada de consciência ou nem por isso?

Muito se tem discutido nos passados meses sobre a consciência ambiental. Desde o fenómeno Greta até ao PAN, as palavras ferozes, contestatárias e de ordem chegam-nos de todo o lado. Não é assim à toa que então surja em todos os programas eleitorais, sejam eles à esquerda ou à direita, uma prioridade denominada "a crise ou emergência climática". 

Segue um convite a digerir alguns exemplos. Aviso: Não faz engordar. O Bloco de Esquerda apresenta um programa em que o seu passo #1 é uma acção pelo clima. 


Lendo as variadas propostas que o Bloco apresenta para ir de encontro a esta emergência é óbvio que não encontramos nenhuma resposta satisfatória para a pergunta base: como é que se continua a crescer economica e demograficamente sem ter um plano de obtenção e aproveitamento de matéria-prima? 

Para perceber o que é que implica para o Bloco a reconversão industrial, abrimos o link que nos leva para os seguintes pontos: 

Será que o Bloco, que geralmente é tão afoito dos estudos e que pede os seus próprios pareceres, analisou seriamente a questão para perceber se Portugal domina as infraestruturas e está preparado para essa mudança já a partir de 2025? Ou estamos simplesmente a ir na onda, logo o Bloco que "raramente" concorda com directivas europeias. 

Já o PCP, não abandonando a sua retórica típica, também inclui no seu programa acções em prole do ambiente. Para quem achava que nunca conseguiria ouvir mudanças no discurso do Jerónimo aqui vai.
É interessante aplicar o termo "viragem" na política ambiental, quando Portugal tem sido pioneiro já desde os tempos de Sócrates (para o bem e para o mal) na implementação das energias renováveis. E daí que isto se pareça simplesmente com aproveitamento político de uma temática que está nas páginas dos jornais. 

Eu não sei se a APA precisa de um reforço ou se precisa simplesmente de gente séria. Mas é extremamente interessante que no topo das prioridades neste tema surja reavivar duas instituições com responsabilidades sobre a natureza e gestão de pareceres de impacto ambiental - nós sabemos como isto funciona ou não?


Ainda que não faça parte do texto principal, o PCP convida a uma reflexão que intitularam de "O ambiente e o capitalismo verde", porque já fazia falta introduzir o termo capital nas suas medidas. 
Afinal alguém tem coragem de escrever sobre a exploração dos recursos naturais, dizendo que é compatível com a defesa do ambiente. Mas novamente é uma afirmação vaga, sem quaisquer efeitos práticos. O PCP vai ou não permitir avaliações rigorosas das matérias-primas em Portugal, apostar na linha de produção para que hajam mais-valias económicas para o País e esquematizar um programa sério de descarbonização faseada? 

Continuando a ler as várias medidas propostas, parece mais uma carta pedida ao Pai Natal, com várias coisas que gostaríamos de ter mas que não sabemos ou não explicamos como.

Como ler o programa eleitoral do CDS-PP é basicamente o mesmo que ler o do PSD, não nos demoremos em ambos. O PSD com o seu site muito user-friendly convida a quem quiser a ir de clique em clique pelo seu programa. Até parece o programa eleitoral do Bloco. O #1 das preocupações para um próximo governo são as ditas alterações climáticas. Só depois vêm as finanças públicas, pois um programa que vise tirar todos os carros movidos a combustíveis fósseis vai ser feito sem custos para os utilizadores e para o estado. Ahhhhh talvez não. 


A Saúde vem em 3º lugar, mas até espanta. Não me lembro de ver grandes avanços neste sector, tirando o aumento das horas extra pagas aos profissionais da saúde para se quadriplicarem em todos os profissionais que fazem falta, mas que não podem ser contratados. Melhorar a eficiência o quê? Não... eficiência só para subir salários aos magistrados. 

Depois de uma breve introdução "para totós", como sendo "A emissão de gases de efeito estufa tem provocado um aquecimento global do planeta" surgem finalmente as propostas concretas do partido.
Ficamos com a ideia de que alguém no PSD deve andar no lobby dos biocombustíveis ou Biomassa, pois em uma dúzia de propostas estas surgem na dianteira:

Curiosamente, e no fundo, o PSD quer reduzir o CO2 para irem de encontro às directivas europeias e mundiais, mas querem queimar biomassa... Então o plano vai ser arborizar para depois queimar. Engenhoso. Mas evitamos falar em combustíveis fósseis e exploração de recursos minerais e chutamos para canto como é que pretendem transitar e mudar por inteiro a frota do estado para veículos "híbridos" ou totalmente "eléctricos". Estará aqui o nascimento de um novo subsídio para deputados? Apoio para a mobilidade 2.0. 

Após ler este programa, fica-se com uma sensação de "soube a pouco", pois fala-se em reciclagem mas não se fala da implementação de infraestruturas capazes de reciclar as baterias que irão provir desta mudança de frota tão repentina. Nem dessa e nem dos milhares de veículos "que já não servem" que irão parar às sucateiras para nos embelezarem a nossa rica paisagem lusitana. 

As medidas do PS nem adiantam aqui colocar, pois o PS já está no governo há tempo suficiente para tomar posições. Sendo que, e pelo menos no papel, parecem determinados em desenvolver a indústria mineira associada ao lítio, a par da transformadora. Mas será o lítio a única alternativa? È esse o único ponto de acção de um governo que quer liderar a transição energética na Europa?

Por outro lado, e porque de repente nasceu o consenso entre a direita e a esquerda, todos os partidos estão preocupados com o mesmo, todos querem o mesmo e dizem o mesmo sobre essas coisas que querem. Na realidade parece ser finalmente  uma verdadeira maioria parlamentar, um motivo de união partidária em prole do ambiente. É pena é que ninguém queira dizer aos portugueses como é que isto se consegue a par de manter todas as condições e desenvolvimento tecnológico que é desejado e imposto pela economia global. E quais os verdadeiros números por detrás da transição energética. E se existe alguém ou não a lucrar com esta transição repentina. E se não existem formas mais sérias para se obterem os mesmos resultados. Isso também não convém discutir. 

Em jeito de terminar, fica aqui um link para os leitores mais ávidos. Enquanto a Europa se preocupa com as suas demagogias, outros países sofrem os efeitos práticos da mentalidade NIMBY. Texto em Inglês porque em Portugal não dá muito jeito falar nestas coisas. 


E não. A mensagem aqui não é que as minas de extração de cobalto sejam más, ainda que nunca possam ser totalmente inócuas. No entanto, as políticas de extração no Congo é que são más. Mas desde que os smartphones continuem a chegar às lojas europeias, está tudo bem! É esta a verdadeira tomada de consciência. Nada é eterno. Nem o Homem. 


Escrito por
Inês Pereira

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